segunda-feira, 8 de junho de 2009

Música difícil

Sempre que converso com amigos sobre música contemporânea, fala-se muito em "crise" da música. Palavras como "impasse", "beco sem saída", "crise criativa" e até "fim" são bastante comuns, e a opinião mas freqüente é que se chegou em um momento em esta música composta hoje em dia ficou mais difícil de se ouvir, distante do ouvinte comum, que tem dificuldade em acompanhar seus acordes dissonantes e seus encadeamentos sonoros imprevisíveis - alerto que quando digo música contemporânea, estou falando da música chamada "erudita" dos séculos XX e XXI, realizada após a quebra da tradição clássica, impressionista e regionalista dos períodos anteriores, porém, ainda sim acadêmica em sua forma e estilo, em oposição à música popular, transmitida de forma oral e intuitiva.

Sem dúvida, em um primeiro momento, pode parecer uma música mais "difícil", pois não admite uma escuta descompromissada e desatenta. É preciso ouvir com curiosidade e interesse, e é nisto que estas obras se afastariam de nossa contemporaneidade, pois em um mundo complexo e quase sempre inóspito, a música tem hoje em dia a função pacificadora das mentes urbanas. É através da música que o homem contemporâneo busca refúgio para suas aflições, estresses e neuroses. Afinal, diria o pensamento comum, depois de atravessar um insuportável engarrafamento na volta para casa, quem vai querer ouvir uma obra composta com uma imprevista irrupção de um coro de buzinas e motores de motocicletas, como na macroópera "Licht" de Karlheinz Stockhausen? Ou até mesmo um quarteto realizado por 4 músicos isolados entre si em helicópteros ao redor de um estádio (Helikopter Quartett, do mesmo autor)?

Não obstante o desconhecimento e o consequente desinteresse comum das massas (e até da burguesia menos informada) pela música clássica em geral, é a música contemporânea que não encontra muito lugar para ser ouvida, pois até os espectadores habituais de salas de concerto torcem o nariz para ela.

Entretanto, há de tudo para todos os momentos e sabores dentro desta categoria. São dezenas de tendências que compõe a música contemporânea, e há um descolamento do que se produziu no século XX do que se está produzindo desde a década de 60 do século passado até hoje, de teor mais clássico e tonal.

Mesmo assim, é interessante tratar da música contemporânea como um todo, pois independentemente da variedade e impossibilidade de colocar tudo que se fez e se faz agora - do século XX para os nossos dias - em uma mesma classificação, este grupo tem em comum o fato de que não conquistou ainda um lugar melhor nas prateleiras de casa ou nas memórias de nossos tocadores.

A música contemporânea é muito ampla e é um rico material para se discutir. E mais importante, conhecer. Assim, eu trocaria as palavras "crise" e "impasse" por "multiplicidade" e "desconhecimento".
Mas esse "desconhecimento" é relativo. Quem se houve nas trilhas sonoras dos filmes mais fundamentais de nosso tempo? Philip Glass ("Koyaanisqatsi" de Godfrey Reggio, "Mishima: A Life in Four Chapters" de Paul Schrader, "The Truman Show" de Peter Weir, "The Hours" de Stephen Daldry e em mais incontáveis obras), Krzysztof Penderecki ("The Shinning" de Stanley Kubrick, "The Exorcist" de William Friedkin), György Ligeti ("2001: A Space Odyssey", também Kubrick), Arvo Pärt ("Les Amants du Pont-Neuf" de Léos Carax, "Heaven" de Tom Tykwer) estão presentes.

Até John Williams, autor das trilhas de "Star Wars" e "Super Man" e quase toda a filmografia de George Lucas e Steven Spielberg, é um bom exemplo de como a música contemporânea está muito presente. Este compositor também tem incontáveis obras que não foram realizadas para o cinema. Muito boas por sinal. Embora sejam obras mais "difíceis", são indissociáveis de seus outros trabalhos mais comerciais. E refletem a multiplicidade da arte contemporânea.

2 comentários:

  1. LH meu amigo, bem vindo à blogosfera. Sugiro que você adicione à sua barra lateral o Gadget "Links de inscrição". Isto facilitará pessoas que, como eu, queiram acompanhar suas atuaizações (posts e comentários) em leitores de RSS.

    Seu texto é prenhe de boas questões, como não poderia deixar de ser, vindo do senhor. Infelizmente não tenho tempo agora para escrever aqui, mas espero voltar em breve. Grande abraço, Maceo

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  2. Já era tempo "dessa gente bronzeada mostrar seu valor" na blogosfera! Conteúdo provocante e "adulto", forma elegante...Parabéns pelo belo blog LH!

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